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Gastronomia (também) é democracia

Pedro Marques

12/10/2018 11h10

O chef David Hertz (centro), do projeto Gastromotiva, com seus alunos (crédito: Divulgação)

Um episódio no universo gastronômico chamou a atenção no começo dessa semana. A chef Helena Rizzo, do premiadíssimo Maní, postou em seu perfil no Instagram uma polêmica foto, em que aparecia com sua equipe mostrando o dedo do meio e com a hashtag #elenao, contra o deputado e candidato à Presidência da República pelo PSL, Jair Bolsonaro.

O post teve recorde de interação: mais de 30 mil likes e quase 26 mil comentários. Muitas mensagens criticaram a postura da chef, algumas bem agressivas, com pessoas dizendo que jamais voltariam a pisar no restaurante da chef, outros muitos a elogiavam e a apoiavam. Para acalmar os ânimos, a chef apagou a foto causadora da discórdia e postou um esclarecimento e pedido de desculpas, o que não impediu que ela continuasse sendo criticada por apoiadores do candidato do PSL.

Nessa época eleitoral, a mais polarizada desde o fim da ditadura militar no Brasil, virou rotina ver debates acalorados (e, infelizmente, casos de violência). Precisamos lembrar, porém, que a gastronomia também tem um papel social e faz parte do exercício de democracia.

Há projetos como o Gastromotiva, do chef David Hertz, que capacita jovens carentes para trabalharem em restaurantes e é apoiado por vários chefs renomados de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e México, como Alex Atala (D.O.M., Dalva e Dito, BIO, etc.), Checho Gonzales (Comedoria Gonzales), Kátia Barbosa (Aconchego Carioca) e Rodrigo Oliveira (Mocotó e Balaio).

Desde 2016, a chef Janaína Rueda, do Bar da Dona Onça, dá aulas para centenas de merendeiras de escolas estaduais e conseguiu melhorar a alimentação de cerca de 1,5 milhão de alunos. Insistiu para que o governo do Estado de São Paulo comprasse ingredientes melhores e colocou no cardápio dos estudantes pratos feitos diariamente, como estrogonofe, carne de panela, ovo com lentilha, macarrão à bolonhesa e feijoada.

No Rio, há o Refettorio Gastronomia, que funciona como um restaurante-escola onde chefs convidados e jovens do projeto cozinham com ingredientes que seriam jogados fora e servem jantares gratuitos para a população carente. Em São Paulo, o Instituto Chefs Especiais, capacita portadores de síndrome de Down para trabalhar em restaurantes e no Chefs Especiais Café. Sem falar nos chefs que valorizam pequenos produtores e ajudam a movimentar a agricultura familiar.

Essas e outras iniciativas só acontecem porque pessoas com diferentes visões de mundo se uniram em torno de uma causa comum. E o respeito às opiniões é fundamental para que a gastronomia possa proporcionar mais coisas boas ao país. Independentemente do seu candidato, refresque a cabeça, porque fazer uma refeição injuriado não cai bem.

Café Chefs Especiais
Onde: Rua Augusta, 2559, Jardins, São Paulo
Telefone: (11) 2638-7478

Refettorio Gastromotiva
Onde: Rua da Lapa, 108, Centro, Rio
Telefone: (21) 4141-1367

Sobre o autor

Pedro Marques já trabalhou em redações e restaurantes, viajou bastante pelo Brasil e pelo mundo para comer e beber bem e trabalha como jornalista de gastronomia desde 2010.

Sobre o blog

Aqui você fica sabendo sobre as coisas mais “daora” dos bares e restaurantes de São Paulo! E outras nem tão daora assim.

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