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O Vietnã de Anthony Bourdain

Pedro Marques

15/06/2018 18h34

O phó, macarrão de arroz com caldo de carne, preparado no Bia Hoi, em São Paulo (crédito: Keiny Andrade)

O chef, escritor e apresentador de TV Anthony Bourdain, morto na semana passada, foi uma inspiração para muita gente que trabalha com cozinha – incluindo eu. As passagens sobre o Sudeste Asiático que o chef escreveu no Em Busca do Prato Prefeito – especialmente sobre o Vietnã – ficaram na cabeça desde que li o livro pela primeira vez, em 2001, se não me engano. Mas daí até conseguir viajar praquele canto do mundo, demorou quase uma década. Em 2010, depois de uma temporada ralando em restaurantes australianos, decidi colocar as coisas na mochila e partir para a Ásia.

Graças à burocracia com vistos (não é uma exclusividade brasileira), tive que ficar no Vietnã por cerca de 50 dias. Foi a deixa para comer praticamente todas as coisas que Bourdain descreveu sobre a comida vietnamita. Deu até tempo de fazer uma das maiores besteiras que o chef conta em seu livro, que é comer coração de cobra. O bicho é morto na hora e o coração, ainda batendo, é colocado num copinho com vinho de arroz – que não é vinho, mas um destilado de arroz capaz de derrubar um urso. O ideal é virar, para não sentir gosto de nada, mesmo que você fique bêbado instantaneamente. Os simpáticos vietnamitas que faziam o serviço diziam que era melhor que viagra, mas motivos etílicos me impedem de confirmar.

Apesar dessas roubadas, dá para dizer que conheci bem o país. No norte, domina o phó, um prato de macarrão com arroz com caldo de carne. A região ainda tem várias coisas legais: o chá cá, um peixe preparado na mesa em um fogareiro levado à mesa, o bun chá, macarrão de arroz com almôndegas e fatias de porco grelhadas, o arroz com camarão e leite de coco, servido dentro de um coco.

No centro do Vietnã, tem o bun bó hue, parecido com o phó, mas mais encorpado, panquecas bem fininhas com mariscos, camarão empanado no arroz. Em Nha Trang comi as melhores vieiras da vida, regadas apenas com um pouco de óleo de cebolinha, cobertas com amendoins e grelhadas na hora. E, em Saigon (oficialmente Ho Chi Mihn City), tinha rolinhos de camarão em papel de arroz, bolinho de camarão na cana-de-açúcar e bahn mi – sanduíche recheado com carne de porco vendido nas ruas.

Deu um certo bode voltar para São Paulo e não encontrar nada de comida vietnamita por aqui. Para minha (e sua) sorte, algumas casas abriram de lá para cá desde então. De minha parte, posso recomendar o Miss Saigon, em Moema, tocado por uma família vietnamita, e o Bia Hoi, com ambiente mais moderno e cardápio assinado pela chef Dani Borges, que esteve duas vezes no Vietnã para aprender a cozinha local. Não é a mesma coisa que estar lá e seguir as dicas de Anthony Bourdain, mas dá para provar coisas bem gostosas. Vai lá!

Bia Hoi SP Vietpub
Onde: Rua Rego Freitas, 516, República, São Paulo, SP
Telefone: (11) 3151-2508

Miss Saigon
Onde: Alameda dos Jurupis, 1374, Moema, São Paulo, SP
Telefone: (11) 4564-1419

Sobre o autor

Pedro Marques já trabalhou em redações e restaurantes, viajou bastante pelo Brasil e pelo mundo para comer e beber bem e trabalha como jornalista de gastronomia desde 2010.

Sobre o blog

Aqui você fica sabendo sobre as coisas mais “daora” dos bares e restaurantes de São Paulo! E outras nem tão daora assim.

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